sábado, 21 de julho de 2007

NAS FOTOS ABAIXO VOCÊ VERÁ UM POUQUINHO DO QUE FOI O NOSSO
II CONGRESSO SOBRE GRUPOS PEQUENOS
UMA ESTRATÉGIA BIBLICA PARA A PÓS-MODERNIDADE
NUM LOCAL AGRADÁVEL E LINDO TIVEMOS MOMENTOS MARCANTES NA PRESENÇA DO SENHOR, APRENDENDO PRINCÍPIOS BÍBLICOS
PARA A VIDA DA IGREJA EM NOSSOS DIAS.

VEJA ABAIXO A CARTA CONVITE E
FOLDER DO PRÓXIMO MÓDULO
QUE ACONTECERÁ
NOS DIAS 24 A 26 DE AGOSTO DE 2007,
NA CHÁCARA ARNALDO KALUPNIEK EM ANÁPOLIS.






FORTE CONTEÚDO BÍBLICO FORAM MINISTRADOS AOS CORAÇÕES DOS PARTICIPANTES.







COMUNHÃO, ALIMENTAÇÃO DO CORPO E DO ESPÍRITO, TESTEMUNHOS DA RENOVAÇÃO DE DEUS NA VIDA DOS LÍDERES E ORAÇÃO FORAM MARCANTES.





VISÃO GERAL DE GRUPOS FAMILIARES

série Grupos Familiares

"O QUE SE ISOLA, BUSCA SEUS PRÓPRIOS INTERESSES, E INSURGE-SE CONTRA A VERDADEIRA SABEDORIA” (Pv 18.1)

INTRODUÇÃO
O crescimento da população mundial e os problemas verificados das grandes concentrações nas áreas urbanas em todo mundo tem trazido como conseqüência um crescente aumento da impessoalização, solidão, competição, falta de amor e de solidariedade ao próximo, estando latente a necessidade de integração e agrupamento das pessoas que almejam ardentemente sair do anonimato a serem identificadas pessoalmente.
Há trinta anos atrás os pais almoçavam e jantavam com os filhos, os vizinhos se conheciam e desenvolviam amizade entre si, a permanência no emprego era significativamente maior, os meios de transporte e comunicação eram mais lentos e demorados, possibilitando relacionamentos mais profundos. Hoje, nós somos identificados por números. Os caixas eletrônicos, os "fast-food", a impessoalidade do computador e da televisão, internet fazem das populações urbanas uma massa carente de companhia. Simplesmente ser alguém especial para outra pessoa. E aí qual o nosso papel como igreja? Apresentarmos a Cristo, nosso melhor amigo, cultivando a singeleza de relacionamento com o próximo, a começar dos mais próximos, no caso, nossa família, vizinhos e até aos confins da terra, se o Senhor assim nos enviar.
Não podemos nos dar o direito de, como igreja, fechar-nos em quatro portas, enquanto o diabo, nosso adversário comemora lá fora seu suposto domínio sobre vidas, que buscam caminho que verdadeiramente não os conduzem a salvação. De lá saímos nós também, do império das trevas, e fomos levados para o reino do seu amor. A pergunta que está no Salmo 116 é para nós ainda hoje: Que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito? Oxalá tenhamos a mesma resposta do salmista: "Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo". (Salmo 116.1)

O QUE É GRUPO FAMILIAR?
É uma reunião em uma residência com objetivo de viver em família, cultivando uma atmosfera gostosa, amigável, descontraída e informal.
1. Deve ser um canal fundamental de uma igreja, no evangelismo, pastoreamento, adoração e no ministério da palavra;
2. É a igreja crescendo dentro de uma visão do Novo Testamento;
3. É a igreja atuando com uma terminologia capaz de atingir o ouvinte, sem espanta-lo ou leva-lo até a idéia de um programa religioso, onde se pode dizer: "Terça-feira teremos Grupo Familiar em casa. Vem participar". Ou, temos um Grupo Familiar em nossa casa e você está convidado".
É mais fácil um amigo ou parente vir em uma reunião em nossa casa do que na igreja. E depois de ir a casa e criarmos relacionamentos sólidos ele ou ela irá a Igreja, porque já conhece parte da igreja e ao Senhor da Igreja.
O QUE NÃO É GRUPO FAMILIAR?
1. Não é um grupo de oração;
2. Não é um grupo de discipulado;
3. Não é um ponto de pregação;
4. Não é um grupo de evangelismo;
5. Não é outro culto da igreja.
Tudo o que está acima mencionado faz parte do Grupo Familiar, mas não exclusivamente. Os encontros são informais e tudo isso acontece sem obedecer a uma liturgia rígida, priorizando a comunhão, o tirar as dúvidas, a possibilidade de todos se conhecerem com profundidade.
"MELHOR E MAIS IMPORTANTE QUE A REUNIÃO É O RELACIONAMENTO".

POR QUE GRUPOS FAMILIARES NA IGREJA?
1. O propósito de Deus na criação foi manter comunhão com a família;
2. A família é a primeira instituição divina na terra e, como tal, a "célula mater" da sociedade;
3. O pecado construiu obstáculo à comunhão da família com Deus;
4. Removendo o pecado no Seu sangue, Jesus Cristo tem formado uma nova família, a família de Deus. Todas as famílias da terra têm a oportunidade de escolher pertencer à família de Deus. (Jô 1.12; Mt 12.46-50);
5. É da vontade de Deus que a sua família:
5.1 Cresça numericamente (se reproduza abundantemente);
5.2 Cresça na comunhão (edificação mútua);
5.3 Cresça no relacionamento fraterno (intimidade e cuidados mútuos);
5.4 Cresça na intimidade com o Pai (o que capacitará a identificar-se com o caráter do Pai e a fazer a Sua Obra);
6. No Novo Testamento as casas e a família receberam uma função nova no Reino de Deus:
6.1 Os discípulos de Jesus foram enviados aos lares das vilas e cidades de Israel:
• Mateus 10.1-5 - A comissão dos doze
• Lucas 10.5-12 - A comissão dos setenta
6.2 Os lares exerceram importância no cristianismo primitivo:
a) A igreja primitiva nasceu num lar - Atos 1.1 a 2.41;
b) A igreja primitiva se reunia habitualmente nos lares:
Atos 2.46-47 - Havia comunhão diária de casa em casa;
Atos 5.42 - Pregavam e ensinavam todos os dias de casa em casa;
Atos 10.1-48 - A casa de Cornélio é usada para abrir a porta de pregação do evangelho aos gentios;
Atos 12.9-17 - A igreja que se reunia na casa de Maria, mãe de João Marcos;
Atos 16.40 - A igreja que se reunia na casa de Lídia em Filipos;
Atos 20.7-12 - A igreja se reunia num cenáculo (sala de jantar) em Troâde;
Atos 20.20 - Paulo afirma ter pregado e ensinado de casa em casa;
Atos 21.8-14 - A casa de Filipe é usada por Paulo;
Atos 28.16,23,24,30,31 - Por dois anos Paulo fez de sua própria casa um local de pregação do evangelho;
Romanos 16.3-5,14,15,23 - Fala-nos de quatro igrejas reunidas em casas;
I Coríntios 16.19 - Repete menção da Igreja reunida na casa de Áquila e Priscila;
Colossenses 4.15 - A Igreja hospedada por Ninfa;
Filemon 1.2 - Uma Igreja na casa de Filemon.

O GRUPO PEQUENO COMO ESTRUTURA BÁSICA

Série Grupo Familiar

Um grupo pequeno de oito a doze pessoas que se reúne informalmente nas casas é a estrutura mais eficaz para a comunicação do evangelho em nossa sociedade high-tech. Esses grupos são mais adequados para a missão da igreja num mundo urbano do que os cultos tradicionais, os programas institucionais da igreja ou os meios de comunicação de massa. Do ponto de vista metodológico, o grupo pequeno oferece a maior esperança para a descoberta e uso dos dons espirituais e para a renovação na igreja e na sociedade.
O grupo pequeno foi a unidade básica da igreja durante seus dois primeiros séculos. Não havia templos, os cristãos encontravam-se quase que exclusivamente em casas particulares. Na realidade, a existência de grupos pequenos de um ou outro tipo parece ser um elemento comum a todos os movimentos significativos do Espírito através da história da igreja. O pietismo primitivo tinha os collegia pietatis - reuniões domésticas para oração, estudo bíblico e discussão.
O grupo pequeno foi um elemento básico do reavivamento wesleyano na Inglaterra, com a proliferação das "reuniões de classe" de João Wesley. Grupos pequenos foram a base do reavivamento de santidade que varreu os Estados Unidos no final do século dezenove e resultou, em parte, no movimento pentecostal moderno.
Vantagens da Estrutura de Grupos Pequenos
O grupo pequeno oferece diversas vantagens sobre outras formas de igreja:
1. É flexível. Como o grupo é pequeno, é fácil mudar seus procedimentos ou funções para enfrentar situações novas ou para alcançar objetivos diferentes. Por ser informal, não tem muita necessidade de padrões rígidos de operação. É livre para ser flexível quanto ao local, horário, freqüência e duração das reuniões.
2. Tem mobilidade. O grupo pequeno pode se reunir em uma casa, escritório, loja, quase em qualquer lugar.
3. É inclusivo. O grupo pequeno pode demonstrar uma abertura que atraia pessoas de todos os tipos.
4. É pessoal. A comunicação cristã sofre de impessoalidade. Muitas vezes, ela é bem elaborada, muito profissional e, por isso, muito impessoal. Mas num grupo pequeno, pessoas encontram pessoas, e a comunicação se dá no nível pessoal. Essa é a razão pela qual, por mais contraditório que pareça, os grupos pequenos podem realmente alcançar mais pessoas do que os meios de comunicações.
5. Pode crescer por multiplicação. O grupo pequeno sé é eficaz enquanto pequeno, mas pode se reproduzir facilmente. Como células vivas, pode se multiplicar em outras duas, quatro, oito ou mais, dependendo da liderança e vitalidade de cada grupo.
6. Pode ser um meio eficaz de evangelização. A evangelização mais eficaz em um mundo high-tech utilizará grupos pequenos como metodologia básica. O grupo pequeno proporciona o melhor ambiente em que pecadores podem ouvir a voz convincente e atraente do Espírito Santo e ganhar a vida espiritual mediante a fé.
7. Requer um mínimo de líderes profissionais. Muitos membros de igrejas que nunca poderiam dirigir um coral, pregar um sermão, liderar um grupo de jovens ou fazer visitas de casa em casa podem liderar um grupo pequeno.
8. É adaptável à igreja institucional. O grupo pequeno não requer a derrubada da igreja organizada. É possível introduzir grupos pequenos sem se descartar ou abalar a igreja. Porém, se a incorporação dos grupos nos lares e dos grupos-célula ao ministério global da igreja for realizada com sinceridade, alguns ajustes serão necessários e, mais cedo ou mais tarde, haverá discussões sobre propriedades.

Retirado do livro "Vinho Novo Odres Novos" - Howard Snyder

terça-feira, 17 de julho de 2007

REFLETINDO SOBRE A ADORAÇÃO E O CULTO CRISTÃO

Valdeci dos Santos

A grande força motora para a transferência de membros entre igrejas já não é mais o aspecto doutrinário, geográfico ou o ensino bíblico, mas o estilo de adoração e culto. Mark Earey lembra-nos que vivemos em uma cultura consumista e todos nós "assumimos que escolhemos nosso
local de adoração da mesma maneira que escolhemos nosso local de compras ou
de assistir a um filme?é tudo baseado nos nossos direitos ao invés de em
nossas responsabilidades."

Para os primeiros discípulos, como diz Mark Earey, "a adoração não era um tempo separado na vida diária; ela era a própria vida diária."
John H. Amstrong, o editor da revista Reformation and Revival, acusa grande parte da adoração moderna de ser "McAdoração," ou seja, comparando-a a um lanche popular, a algo produzido em escala industrial. Concordando com esta opinião, Earey afirma que o público evangélico atual espera que as igrejas "providenciem um menu de diferentes e divergentes estilos de adoração e experiência."
A influência existencialista na adoração cristã é evidenciada pela atual ênfase aos sentimentos. Neste sentido, a liturgia contemporânea tem sido fortemente acusada de ser um meio para se atingir emoções. Assim é que grande parte dos nossos cânticos e hinos são instrumentos de auto-ajuda e auto-aceitação, e muitas das nossas orações são meios de auto-reconciliação. O resultado final é que podemos ir para casa "descarregados" e nos sentindo bem, mas sem termos adorado verdadeiramente.
Como filhos desta nossa geração, exigimos que cada momento do culto venha satisfazer nossas necessidades. Neste contexto, o culto foi transformado em um "programa" e o desejo de se obter "felicidade" é certamente maior do que o de se obter "santidade." Queremos avidamente alegria, mas o comprometimento tornou-se secundário. Julgamos o culto como "agradável," não com base na instrução bíblica apresentada, mas no grau de "satisfação" pessoal alcançada.
J. I. Packer observa: "Geralmente reclamamos que os ministros não sabem como pregar; mas não é igualmente verdade que nossas congregações não sabem mais como ouvir?"
Um terceiro elemento de erro em nosso meio é a presença deísta em nossa praxis christiana. Popularmente falando, o deísmo é identificado como a filosofia do "criador remoto" que não interfere na criação, mas a governa através de leis pré-estabelecidas.(...) Nos últimos
dias, porém, ela tem ressurgido no meio cristão sob a presunção de que, uma vez tendo "tomado posse" das promessas divinas para nós, podemos "reclamar" nossos direitos junto ao trono do Pai. A idéia é que, uma vez cumpridos os requisitos (as leis espirituais), Deus passa a estar à nossa mercê.
Com isto, acreditamos na ilusão de que nossas palavras têm poder e o que "declaramos," ou
"profetizamos" sobre a vida uns dos outros, e mesmo sobre a nossa vida individual, certamente acontecerá.
(...) é mister que se entenda o que estamos perdendo com uma adoração distorcida. Segundo as Escrituras, o que perdemos não é uma congregação numerosa, nem uma cerimônia mais elaborada, mas a presença do próprio Deus em nossa adoração (Is 1.15). A presença de Deus na adoração é uma das maiores bênçãos do povo cristão (2 Cr 5.13-14). É neste contexto da presença divina na adoração que o salmista declara: "A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!" (Sl 84.2). E ainda: "Um dia nos teus átrios vale mais que mil, prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade" (v. 10).
(...) temos que admitir que, de acordo com as Escrituras e a história cristã, adorar a Deus corretamente exige tempo e humildade. Preparação é essencial. Examinar nossas intenções e avaliar nossas ações devem ser exercícios constantes em nossa vida de adoradores (Sl
66.18 e 131). Além do mais, nosso coração deve ser continuamente guardado contra o egocentrismo a fim de que possamos dizer: "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória" (Sl 115.1). É somente adorando o Senhor de modo verdadeiro que seremos encontrados por ele e, como disse Richard Baxter: "Se é a Deus que você está buscando em sua adoração, você não ficará satisfeito sem Deus."

sexta-feira, 13 de julho de 2007

DEIXA MEU POVO IR

SÉRIE DISCIPULADO

Por Francisco Nunes

A ordem de Deus a faraó foi muito clara e definitiva: “Deixa ir o Meu povo” (Êx 5.1). Não era um pedido ou uma sugestão; não era um “por favor” ou “com licença”, mas uma ordem do Deus Jeová: “Deixa ir o Meu povo”. E o descumprimento desta ordem resultou na destruição do Egito, na morte do primogênito do governante e na vergonhosa derrota de seu exército.

Esse fato do Antigo Testamento serve-nos de ilustração, alerta e princípio para algumas questões relacionadas também ao discipulado. A Bíblia toda revela que Deus é ciumento de Seu povo. Não é para menos. Em termos do Novo Testamento, o povo de Deus, a Igreja, foi comprado pelo preço do sangue de Jesus Cristo, Deus encarnado, vertido na cruz do Calvário. Aquele que nos fez foi também Aquele que nos comprou de volta para Si mesmo, para sermos propriedade Sua, “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” por um alto preço (1Pe 2.9). O Senhor (e é sempre bom lembrar que esse título significa dono, possuidor, amo), por meio de Seu Espírito “que em nós habita tem ciúmes” de nós (Tg 4.5). Ele não admite dividir o amor que Lhe devemos ter com qualquer outro. Como alguém já disse: “Ou Ele é Senhor de tudo ou não é Senhor de nada”.

A saída do Egito bem ilustra isso. Faraó tentou uma via-média com Moisés – e, por conseguinte, com Deus –: o povo podia sacrificar por ali mesmo; o povo podia ir, mas não muito longe; o povo podia ir, mas não todas as pessoas; o povo podia ir, mas não com todos os seus bens (Êx 8.25-28; 10.8-11,24), sem falar das várias vezes em que mentiu que o deixaria partir. Mas Deus não negocia Seus direitos sobre Seu povo. Este povo Lhe pertence e, por isso, Ele estabelece os termos e as condições. E estes são muito claros e simples: é tudo Dele.

O discipulado, sem dúvida, envolve uma grande tentação, uma grande armadilha: a de querermos que aqueles a quem discipulamos apeguem-se a nós. E isso pode facilmente acontecer, quer propositada, quer acidentalmente. O fato de participarmos muito de perto da vida de alguém gera um ambiente de confiança e de dependência que, se mal utilizadas, resultarão em escravidão, abuso espiritual, cegueira e certo tipo de idolatria, quando não pecados morais. Isso decorre do erro primário de entendermos aqueles a quem instruímos como nossos discípulos e não discípulos do Senhor. Os elogios que podemos receber quando eles reconhecem como os ajudamos, as confidências de problemas muito íntimos (especialmente por pessoas do sexo oposto), a confiança quase cega em tudo o que dizemos, a certeza de que sempre teremos a resposta para todas as dúvidas – sejam elas bíblicas, filosóficas, emocionais, profissionais ou de qualquer outra área da vida – todos estes são resultados possíveis do discipulado. Mas são perigosos. São armadilhas. Podem se configurar em tentações para nós, propondo-nos roubar o coração do povo, como fez Absalão em relação a seu pai, Davi (2Sm 15.6).

Podemos aceitar essa situação inocentemente – pelo menos, a princípio –, justificando-nos que aquele frágil discípulo precisa de uma atenção especial, precisa de um acompanhamento mais estreito, pois ele nunca teve ninguém com quem conversar, em quem confiar. Mas, com certeza, se tivermos um relacionamento sério com Deus, seremos alertados interiormente por Seu Espírito de que algo está errado. O povo é do Senhor, pertence a Ele, deve aprender a relacionar-se com Ele, a ouvir Dele, a receber respostas Dele, a confiar Nele, a ser orientado por Ele. Os discipuladores – ou qualquer outro nome que se prefira – devem ser apenas exemplos vivos desse relacionamento estreito com o Senhor, nunca um substituto dele. E, por amor ao Senhor e ao Seu povo, devem fugir de toda possibilidade que esse entendimento errado do discipulado se estabelece, tanto neles mesmos como naqueles a quem orientam.

O povo é do Senhor, e Ele se vingará – a Bíblia claramente ensina que o Senhor toma vingança de todo aquele que tenta se apossar de Seu povo! – de quem quer que Lhe roube o lugar no coração daqueles que Lhe pertencem. Sejam estes quem forem. Tenham feito isso não importando sob qual pretexto. A Grande Comissão prescreve: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado” (Mt 28.20). A função do discipulado é ensinar, não fazer em lugar de. É ensinar a guardar o que o Senhor ensinou, não o que o discipulador ensinou ou o que ele supõe ser certo. Em outras palavras, o discipulado deve conduzir os filhos de Deus a conhecerem pessoalmente Aquele a Quem pertencem e a se relacionarem diretamente com Ele. Os cristãos devem aprender a pensar por si mesmos, na dependência do Espírito e da Palavra. Devem ser instruídos a orar por si mesmos, por suas necessidades e pelas situações ao seu redor. Devem aprender a verificar tudo o que ouvem pelo imutável padrão das sãs palavras das Escrituras. O povo é do Senhor. E Ele se alegra quando cada membro de Seu Corpo avança para a maturidade dessa forma. E que ninguém ouse pôr a mão no povo comprado pelo sangue.

Fonte: www.eclesia.com.br

DISCIPULADO DE JESUS

SÉRIE DISCIPULADO

Por Maria Clara Bingerman

No Novo Testamento, a questão do discipulado será compreendida a partir da pessoa de Jesus de Nazaré, visto e reconhecido como aquele que escuta a Deus e ao povo incessantemente, e carrega sobre seus ombros os sofrimentos e enfermidades de todos, a fim de lhes trazer o consolo e a libertação.

Jesus é ao mesmo tempo a Palavra e o perfeito ouvinte. É o Verbo de Deus voltado para a contemplação do rosto do Pai desde toda eternidade (Cf. Jo 1,1), e por sua Encarnação será o rosto do Pai voltado para a humanidade (Cf. Jo 1,18.) E àqueles que faz seus discípulos ensinará tudo o que escutou como perfeito discípulo e Filho amado do Pai, para que sejam no mundo seu rosto, sua boca e seu corpo dado em oblação e serviço a todos.

Os elementos distintivos da identidade do discípulo cristão são, portanto, acima de tudo: a escuta à chamada de Jesus, a resposta crente e amorosa, a vinculação a uma comunidade de fé e a missão que a comunhão de vida e destino com Jesus vai levá-lo a desempenhar. A verificação da autenticidade do discipulado poderá ser percebida nos frutos que daí brotarão.

A relação de Jesus com seus discípulos começa com um chamado. Jesus convoca a quem quer nos mais diversos lugares: junto ao lago, no caminho, na montanha, em uma refeição; em diversas circunstâncias: na cotidianidade, no trabalho de pescador ou de coletor de impostos; e com uma proposta bem definida: estar com Ele e ser enviado a pregar. Enquanto, no judaísmo rabínico, eram os discípulos que escolhiam a escola e o mestre, aqui sucede algo novo. A novidade de Jesus é que Ele é quem chama por própria iniciativa e o faz com autoridade. "Não me escolheram vocês; fui eu quem os escolhi a vocês." (Jo 15,16).

Este chamado ou vocação não é algo individualista e subjetivo, mas personalizado e comunitário. Totalizante, exige a vida inteira daquele ou aquela que escuta o chamado. Situa-se no interior do projeto de salvação, em um contexto eclesiástico concreto, e é algo exigente e vital. O chamado de Deus pela boca de Seu Filho Jesus se realiza seja de maneira direta, sensível e evidente como também, freqüentemente, através de mediações diversas, que convergem e se esclarecem na mediação comunitária e social. Pede ouvidos atentos e obedientes para ser escutado. E desde o primeiro momento, é um chamado a compartilhar a vida, o destino e a missão de Jesus.

O ponto de partida do discipulado cristão é, portanto, um encontro com a pessoa viva de Jesus, que pode dar-se em muitos lugares e circunstâncias: na escuta da Palavra, na mesa da comunhão, em situações vitais onde a mente e o coração humanos são postos em xeque e muito especialmente no rosto do outro. Em um segundo momento se dá a resposta, a qual compele o novo discípulo a desinstalar-se e a deixar ou relativizar tudo: família, bens, costumes, para seguir o Mestre. Este será para ele de agora em diante o único absoluto. A relação mestre-discípulo não se reduz a uma relação de ensino e aprendizagem intelectual; implica comunhão de vida e assimilação de um estilo e de um destino comuns. Nunca poderá pretender o discípulo ser mais que o mestre, mas "lhe bastará ser como seu Mestre" (Cf. Lc 6,40).

Essa mudança radical de vida está longe de ser uma atitude provisória, que dura enquanto o discípulo não chega a ser mestre. Do princípio ao fim não há mais que um Mestre, Cristo (Mt 10,24s; 23,8). Por isso, a vinculação dos discípulos a seu mestre é imensamente mais estreita e íntima que a de outros mestres. Jesus chama os discípulos "para que estejam com ele" (Mc 3, 14), participando de seu caminho errante, de sua carência de domicílio e inclusive de seu perigoso destino. Trata-se de uma comunhão total, que carrega em si a força e o conteúdo de uma confissão de fé e de vida em Jesus como Messias. Confessar isto com a boca e a vida poderá levar o discípulo até o final do testemunho, ou seja, ao martírio.

A resposta do discípulo, portanto, não corresponde a um saber intelectual, mas é sua vida mesma, dada e oferecida para que outros tenham vida. Ela se dá em um itinerário de fé que parte do chamado e do encontro com Jesus, passa pela conversão, segue em fidelidade até a cruz e dá testemunho da Ressurreição, a ponto de estar disposto a dar a vida por outros. Seguimento e testemunho, até o cume do martírio são, portanto, duas dimensões fundamentais do discipulado. Implica dar vida, dando a vida.

Maria Clara Bingerman – Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio

Fonte: www.jesussite.com.br

ESTRATÉGIA QUE FAZ CRESCER

SÉRIE DISCIPULADO

Por Samuel Medeiros

“As igrejas fortes não estão construídas sobre programas, personalidades ou truques. Estão construídas sobre os propósitos eternos de Deus”. Esta afirmação de Rick Warren sempre me faz pensar nas estratégias que a igreja tem usado atualmente para crescer. Não podemos negar que a igreja tem sido caracterizada por um alto nível de ativismo, sempre procurando produzir eventos, programas ou atividades que preencham ao máximo o tempo de seus membros. Nos dá a impressão de quanto mais atividades uma igreja oferece, mais atraente ela irá parecer aos olhos do seu público. Certa vez ouvi de um pastor − “Em nossa igreja temos um departamento para cada necessidade” − e isso, para muitos, soa como uma fórmula, quase que indiscutível, de sucesso para o crescimento da igreja. Mas será que estas estratégias estão fundamentadas sobre os propósitos de Deus? Será que isso realmente conduz a igreja a um crescimento eficiente, sadío e permanente? Será que produz uma mudança na vida de seus membros conduzindo-os a maturidade espiritual?

O Senhor Jesus, antes de deixar a terra, deu uma ordem específica: “ide, fazei discípulos... ensinando-os a observar todas as coisas que vos tenho mandado” (Mt 28.19,20) Não poderia ser mais simples e objetiva, esta resposta as necessidades da igreja para o crescimento, em qualidade e quantidade. Qualquer líder, se prestar devida atenção, aplicar em seu ministério este conceito estará construíndo uma igreja forte e sadia. O que Cristo pediu não foi nenhum plano mirabuloso cheio de atividades visando agradar aos seus seguidores. Era apenas o essencial e necessário. “Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mt 24.45,46). Deus não vai pedir conta de quantos membros tinha no coral da igreja, não vai se importar se o retiro da mocidade atingiu a sua lotação máxima, nem se preocupa se a programação da igreja é um sucesso no bairro. Mas o que realmente importa, é se houve empenho em cumprir esta tarefa especifica: “fazei discipulos”.
-

O ponto essencial do discipulado, segundo o modelo de Cristo, é ensinar através da convivência. Cristo orou ao Pai antes de escolhe-los, fez um convite direto a cada um, andava com eles, ensinava-os, aplicou tarefas práticas e aos poucos foi possível perceber uma mudança gradativa na vida daqueles homems. Pedro mesmo quando tentava negar que conhecia a Cristo, os que ali estavam presentes disseram “Verdadeiramente, és um deles, porque o teu modo de falar o denuncia”. Até mesmo a maneira de Pedro se expressar mostrava com quem ele havia estado. O discipulado genuíno produz este tipo de resultado: denuncia a Cristo na vida do crente.
O mais interessante desta estratégia bíblica é o fato de que não se aplica apenas aos líderes, pastores ou responsáveis da igreja. Esta tarefa é dirigida a todo e qualquer cristão, que deseje estar dentro dos propósitos de Deus para a igreja. O que irá medir nosso êxito são a resposta a estas 3 perguntas: Que mudanças Deus tem feito na vida de outras pessoas através do meu ministério? Quais são os que decidiram seguir a Jesus ao vê-lo em minha vida? Quantos, hoje, servem ao ministério por me ver servir?


Fonte: www.eclesia.com.br

segunda-feira, 9 de julho de 2007

PAULO E A MENTORIA

SÉRIE DISCIPULADO


David Kornfield
Quando me pediram para escrever sobre Paulo e o ministério pastoral em homenagem ao Pr. Irland Azevedo, optei por focalizar o MAPI – artigos assunto mentoriamento. Andando com esse patriarca nestes últimos anos, percebo quão envolvido ele está com o tema. Ora às voltas com o pastoreio de pastores, com sua paixão por capacitar novos pastores ou por ajudar no crescimento de outros mais experientes, ora escrevendo ou ensinando sobre o assunto. Não raro podemos ver Irland encorajar um líder ou pastor a prosseguir em seu chamado. Por isso, espero poder homenageá-lo de forma especial ao focar o assunto.

Barnabé como mentor de Paulo
Para entender claramente como Paulo mentoreava, precisamos saber como ele próprio foi mentoreado.
Em Atos 22.3, Paulo afirma: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade [Jerusalém]. Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei de nossos antepassados, sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês hoje” (grifo do autor).
Essa afirmação sugere que Paulo foi para Jerusalém tão-logo atingiu idade suficiente para ser instruído pelo rabi mais honrado e famoso do primeiro século, o qual possivelmente foi neto de Hillel.
Como o próprio Hillel, tradicionalmente alistado entre os “cabeças das escolas”, Gamaliel possuía uma visão equilibrada. Sua sabedoria singular e seu discernimento se destacaram ao proteger os apóstolos do Sinédrio, que desejava matá-los (At 5.33-40).
Nesse momento, Deus separou outro mentor para Paulo. Seu nome era José, mais conhecido no entanto pelo apelido de Barnabé. Para compreender a formação que Paulo obteve com Barnabé, precisamos conhecê-lo melhor.
No século II, Clemente de Alexandria escreveu sobre Barnabé mencionando que ele integrara o grupo dos 72. Vejamos a descrição do ministério desse grupo para chegar a um entendimento melhor sobre esse mentor:
Depois disso o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois, adiante dele, a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir. E lhes disse: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. Vão! Eu os estou enviando como cordeiros entre lobos. Não levem bolsa, nem saco de viagem, nem sandálias; e não saúdem ninguém pelo caminho. Quando entrarem numa casa, digam primeiro: Paz a esta casa. Se houver ali um homem de paz, a paz de vocês repousará sobre ele; se não, ela voltará para vocês. Fiquem naquela casa, e comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de casa em casa. Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam o que for posto diante de vocês. Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês. Mas quando entrarem numa cidade e não forem bem recebidos, saiam por suas ruas e digam: Até o pó da sua cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vocês. Fiquem certos disto: o Reino de Deus está próximo. Eu lhes digo: Naquele dia haverá mais tolerância para Sodoma do que para aquela cidade”. [...]
“Aquele que lhes dá ouvidos, está me dando ouvidos; aquele que os rejeita, está me rejeitando; mas aquele que me rejeita, está rejeitando aquele que me enviou” (Lc 10.1-12, 16).
Muitas são as características que poderíamos destacar do mentor idôneo:
1. Trabalho em equipe: mandados dois a dois (v. 1);
2. Visão: enxerga a colheita e a necessidade de levantar obreiros (v. 2);
3. Oração: coloca-se diante de Deus antes de iniciar o ministério (v. 2);
4. Coragem: vai em frente, sem receio, mesmo ciente de que será como ovelha entre lobos e que haverá batalha (v. 3);
5. Fé e estilo de vida simples: não se preocupa com dinheiro, bagagem e outros recursos, mas permanece na dependência de Deus (v. 4);
6. Pessoa de paz: estende e reconhece a paz (shalom), a harmonia (v. 5);
7. Pessoa que se relaciona: estabelece-se numa casa, numa família, finca raízes. Não apenas parece boa, mas é de fato boa e íntegra (v. 5-7);
8. Pessoa do Reino de Deus: é submissa ao Rei e por isso tem autoridade (v. 9, 11);
9. Discernimento: percebe quem compartilha o mesmo espírito (v. 6);
10. Humildade suficiente para receber: consegue depender de outros com graça (v. 7, 8);
11. Capaz de lidar com conflitos: fala a verdade quando necessário e enfrenta a rejeição sem levar para o lado pessoal (v. 10-12, 16);

Essas se constituem em algumas das qualidades que de fato caracterizaram Barnabé, como mentor idôneo que foi. O livro de Atos corrobora essa idéia, como podemos perceber claramente:
José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa “encorajador”, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos (4.36, 37).
Barnabé é caracterizado não apenas como um estudioso da Bíblia, mas com experiência transcultural e muito amado entre os apóstolos. Um homem de coragem contagiante (encorajador), comprometido com o Reino, desprendido das coisas materiais, generoso, confiante nos apóstolos e, com maior simplicidade, a eles submisso. A fé, o compromisso e a integridade de Barnabé contrastaram frontalmente com Ananias e Safira, cujas ações também são narradas no livro de Atos.

As ações de Barnabé voltam a destacar-se logo após a conversão de Paulo:

Quando [Paulo] chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo. Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus. Assim, Saulo ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor (At 9.26-28).
Como se pode ver do texto, Barnabé demonstra possuir discernimento espiritual. Vê o que ninguém mais foi capaz, nem mesmo os apóstolos. Tinha coragem. Superou o medo e constatou que Paulo realmente nascera de novo.
A coragem de Barnabé é mais uma vez evidenciada ao se tornar patrocinador ou advogado de Paulo, arriscando a vida em tornar-se conhecido de Paulo e arriscando sua amizade com os apóstolos ao levar Paulo até eles. Seu testemunho e a confiança que os apóstolos depositavam em Barnabé permitiram que Paulo fosse aceito pela igreja e andasse com liberdade em Jerusalém, ministrando dentro e fora da igreja.
Cerca de treze anos mais tarde, a igreja em Antioquia se expande grandemente. Os apóstolos, preocupados com as notícias de que gentios se convertiam, mandaram alguém de absoluta confiança e com experiência transcultural para cuidar da igreja. E esse era Barnabé.
Notícias deste fato (de gentios se converterem) chegaram aos ouvidos da igreja em Jerusalém, e eles enviaram Barnabé a Antioquia. Este, ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração. Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor. Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo e, quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Assim, durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos. Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos (At 11.22-26).
Esse texto de Atos nos fornece uma descrição objetiva e clara de Barnabé. Entre suas muitas qualidades, mais uma vez destaca-se o discernimento espiritual. Primeiro na habilidade de “ver” a graça de Deus (v. 23) e, mais tarde, em perceber que a igreja de Antioquia precisava de um líder como aquele que ainda permanecia esquecido e quase desconhecido na igreja primitiva: Saulo.
Nos treze anos que se passaram desde os fatos descritos em Atos 9 até os mencionados em Atos 11, não há nenhum relato de que Paulo tenha estabelecido um ministério significativo. Os historiadores da igreja não se referem a nenhuma igreja, em Tarso, fundada por Paulo.
Aparentemente o apóstolo permanecia inativo quando Barnabé o chamou para se juntar a ele na igreja de Antioquia (heliel, interessante, as vezes tentamos trabalhar com alguém e parece não dar certo, de repente vamos de novo e de novo e de repente a pessoa pode se despertar como Paulo e ser um grande homem de Deus). O teor dos versículos mencionados indica que não foi fácil encontrá-lo. Mais uma vez, alguém acreditou em Paulo, quando ninguém mais acreditava. Depois de um ano, durante o qual Barnabé agiu como mentor de Paulo em Antioquia, uma reunião da liderança daquela igreja mudaria a história da Igreja de Jesus Cristo:
Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram (At 13.1-3).
Nestes versículos, como nas passagens anteriores (11.26, 30; 12.25), Barnabé é alistado antes de Saulo, indicando a liderança e importância dele. Seria natural que ele fosse o primeiro entre os iguais na equipe de liderança da igreja de Antioquia. Se a ordem de menção nesse primeiro versículo indica deferência, talvez Saulo não passasse do calouro da equipe.
Essa ordem se mantém até o início da viagem (At 13.7), quando ocorre uma surpreendente mudança. Ao saírem de Pafos, Lucas relata que “Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, na Panfília. João os deixou ali e voltou para Jerusalém” (13.13), o que demonstra claramente que Barnabé deixara de o líder da equipe.
Tudo indica que Barnabé, tendo percebido que Paulo estava pronto para assumir a liderança, passou-a para ele. Talvez João Marcos tenha abandonado a equipe por não se sentir pronto para apoiar Paulo, querendo permanecer numa equipe liderada por Barnabé, seu parente.
Daí em diante, o nome de Paulo passa a figurar sozinho ou antes de Barnabé (13.42, 43, 46, 50; 14.1, 3), com uma exceção. Em Listra, Paulo curou um homem aleijado desde o nascimento. Diante disso a multidão clamava que os deuses haviam descido até eles em forma humana. Então, chamaram Barnabé de Zeus e Paulo, de Hermes, “porque era ele quem trazia a palavra” (14.12). Paulo e Barnabé, ao ouvirem a multidão, “rasgaram as roupas e correram para o meio da multidão, gritando e protestando que não eram deuses” (14.14).
Pela designação feita de Paulo e Barnabé, parece que a multidão via Barnabé como a autoridade maior, a cobertura espiritual de Paulo, por isso Barnabé foi chamado de Zeus, que era considerado o rei dos deuses, e Paulo, Hermes, porque este era o mensageiro, o porta-voz de Zeus.
Nesse momento crítico, se a ordem de menção dos nomes de fato é significativa, como muitos crêem, Barnabé teria assumido a liderança temporariamente. No entanto, assim que a questão foi resolvida, o nome de Paulo volta a figurar antes do nome de Barnabé (14.20, 23).
Paulo e Barnabé voltam para Antioquia, onde Barnabé naturalmente seria recebido como o primeiro, o “pastor titular”, como saíra. No entanto, mais uma vez Atos 15.2 deixa claro que Paulo vem primeiro no contexto dessa igreja. Aparentemente, Barnabé conseguira transmitir aos crentes de Antioquia, e eles aceitaram, seu apoio à liderança de Paulo.
A igreja de Antioquia, então, os envia como representantes no concílio de Jerusalém. No início do concílio, Barnabé é mencionado antes de Paulo (15.12). Para a igreja de Jerusalém, e especialmente para os apóstolos, Barnabé naturalmente seria o primeiro, o amado, o homem de sua confiança.
Entretanto, no final do concílio, mais uma vez o nome de Paulo precede o de Barnabé (15.22, 25) e assim permanece na volta a Antioquia (15.35). A exemplo do que ocorrera com a igreja de Antioquia, provavelmente Barnabé transmitira à igreja de Jerusalém o mesmo conceito, e fora aceito.
Agora como líder, Paulo naturalmente toma a iniciativa de promover uma segunda viagem missionária. Barnabé propõe levar João Marcos, mas Paulo discorda de forma inegociável. Esse desentendimento entre Paulo e Barnabé resulta na separação destes (15.36-41). A partir daí, o livro de Atos deixa de mencionar o nome de Barnabé.
Talvez Barnabé tenha visto algo em João Marcos que os demais não viram, nem mesmo o apóstolo Paulo. É como se assistíssemos ao mesmo filme de anos atrás, quando ninguém acreditava em Paulo, nem os apóstolos de Jerusalém. Barnabé arriscara tudo para elevar a pessoa de Paulo, desacreditada, mas em quem ele discernia um potencial que outros não podiam ver. E, aparentemente, fez o mesmo com João Marcos.
No entanto, com o passar do tempo, descobrimos nas epístolas de Paulo que Marcos se tornou companheiro dele: “Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visitá-los, recebam-no” (Cl 4.10, grifo do autor).
Paulo não só recebera Marcos como envia cartas de recomendação de seu, agora, companheiro. Mais adiante, Paulo se refere a Marcos como um de seus “cooperadores” (Fm 1.24). Mas o toque de ouro está nas últimas palavras de Paulo, já ciente de que sua vida findara (observe os verbos no passado): “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4.7, grifo do autor). Sabendo que está com os dias contados e seu ministério acabado, ele escreve para Timóteo:
Procure vir logo ao meu encontro, pois Demas, amando este mundo, abandonou-me e foi para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério (2Tm 4.9-11).
Quando seu tempo se esgotava, quando se sentiu abandonado e quando possivelmente se deixava abater pelo desânimo, Paulo queria ter duas pessoas a seu lado: Timóteo, seu amado filho, e Marcos, “porque ele me é útil para o ministério”. Quando Paulo já não divisava nenhum ministério para si, viu em Marcos alguém em quem depositar o que ainda tinha a dar, para que o ministério não morresse quando sua vida findasse.
O mais interessante nessa história não está em Paulo ter aceitado Marcos de volta, como companheiro de sua equipe, mas o fato de este ter aceitado Paulo como líder. A Bíblia não relata, mas imagino que a fonte disso tenha sido Barnabé. Paulo rejeitara Marcos no passado porque este o abandonara em plena viagem (At 15.38).
Depois desse conflito sem precedentes na igreja primitiva, Marcos deve ter ficado duplamente magoado com Paulo: por ter sido rejeitado tão veementemente e por saber que, por sua causa, a rejeição também acabara estendendo-se a Barnabé. Curar ou restaurar um coração ferido não é nada fácil (v. Pv 18.19). Aparentemente Barnabé trabalhou a alma de Marcos de tal forma que lhe devolveu o respeito e a apreciação por Paulo.
Barnabé depositou o espírito de reconciliação dentro do Marcos. Isso se manifesta mais uma vez em ele ser não apenas muito querido do Paulo, mas também do Pedro. Às vezes Pedro e Paulo tinham dificuldades de relacionamento ou entendimento (veja Ga 2.11-14; 2 Pe 3.16), mas Marcos chegou a ser não apenas uma das poucas pessoas que Paulo queria a seu lado no final de sua vida, mas também o filho espiritual de Pedro (1 Pe 5.13). E como resultado disso, Marcos escreveu o primeiro evangelho, expressando em grande parte a perspectiva de Pedro que nunca escreveu um evangelho, mas em certo sentido, através de Marcos, escreveu sim.
Barnabé teve a graça de não apenas elevar Paulo à categoria de líder, mas de apoiá-lo e mantê-lo como tal, enfrentando a oposição, possivelmente até de João Marcos, da multidão em Listra, da igreja de Antioquia após a primeira viagem missionária, a dos apóstolos e da igreja de Jerusalém. Foi um mentor incomum, alguém que abriu caminho para que o próprio Paulo entendesse como mentorear outros.
Sem Barnabé, talvez não tivesse existido o ministério de Paulo, suas cartas, o ministério de Marcos e seu evangelho e os evangelhos sinópticos de Mateus e Lucas como os conhecemos hoje, já que se basearam no evangelho de Marcos, escrito antes. Barnabé fica, para mim, como o melhor modelo de mentor na Bíblia, depois de Jesus. Uma das provas disso é na forma que seu mentoreado, o Paulo, se multiplica em relacionamentos de mentoria.
Que muitos de nós possamos também ser filhos de Barnabé!

Paulo como Mentor de Timóteo
Paulo mentoreou muitas pessoas, no entanto foi com Timóteo que esse trabalho sem dúvida destacou-se mais claramente. A imagem de mentor transparece em 1 e 2 Timóteo, em especial no início de 2Timóteo. Experimente numerar, nos versículos citados a seguir, cada palavra, frase ou conceito que você considere expressão típica de um mentor:
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita em você. Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.
Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus [...].
Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de mim. Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em nós. Você sabe que todos os da província da Ásia me abandonaram, inclusive Fígelo e Hermógenes[...].
Portanto, você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus. E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2Tm 1.1-8, 13-15; 2.1-2).
Vejo que o mentor, como também o pai espiritual, o líder pastoral ou o discipulador será bem-aventurado se reunir as qualidades de Paulo descritas nessas passagens. Vejamos brevemente algumas delas:
1. Relacionamento paternal e familiar: Paulo trata Timóteo, repetidas vezes, como filho (1Tm 1.2, 18 e 2Tm 1.2; 2.1). Hoje, parece que carecemos tanto de pais espirituais como de filhos. A desestruturação e o desajuste familiar na atual geração é terrível. Precisamos muito de pessoas que saibam gerar filhos espirituais.
2. Amor: Vale a pena destacar como Paulo se referia a Timóteo: “meu amado filho” (v. 2). Palavras semelhantes foram ditas pelo Pai após o batismo de Jesus: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mt 3.17). As Escrituras trazem mais oito frases similares com referência a Jesus, o que mostra quão fundamental isso foi para a vida e a identidade de Cristo (v. Is 42.1; Mt 12.18, 17.5; Mc 1.11, 9.7; Lc 3.22, 9.35 e 2Pe 1.17). Quantos líderes e pastores não estão convictos de que são realmente amados, aceitos pelo Pai celeste ou por um mentor ou pai espiritual aqui na terra;
3. Intercessão: a ligação profunda entre Paulo e Timóteo transparecia no relacionamento de Paulo com Deus. O apóstolo lembrava-se de Timóteo constantemente, dia e noite (v. 3). Que privilégio contar com um mentor intercessor!
4. Intimidade: Timóteo tinha liberdade de chorar com Paulo, e este não se envergonhava disso (v. 4). Na verdade o próprio Paulo também sabia ser transparente e compartilhar emoções profundas que também o levavam às lágrimas. Dirigindo-se aos anciãos de Éfeso, a igreja que mais tarde Timóteo supervisionaria, Paulo afirmou que serviu “ao Senhor com toda a humildade e com lágrimas” (At 20.19); instou-os a cuidarem de si mesmos e a vigiarem, lembrando-lhes “que durante três anos jamais [cessara] de advertir cada um [deles] disso, noite e dia, com lágrimas” (At 20.31). Não devemos nos surpreender de que nessa despedida “todos choraram muito, e, abraçando-o, o beijavam” (At 20.37). O verdadeiro mentor não só deixa seu coração transparecer, a ponto das lágrimas fazerem parte de sua vida e de seu ministério comum, como encoraja seus seguidores a fazerem o mesmo.
5. Saudade e alegria (v. 4): Paulo, afinal, possuía um lado afetivo e sabia expressá-lo. Desenvolveu uma ligação afetiva com seu mentoreado. Alegrava-se com seu mentoreado e realmente buscava oportunidades de compartilhamento (veja 2Tm 4.9). Mais uma vez a alegria de Paulo reflete a alegria do Pai no Filho quando diz: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (grifo do autor).
6. Reafirmação do que é bom (v. 5): Paulo citava qualidades de Timóteo e das boas experiências que compartilharam. Não insistia sempre em que seu mentoreado precisava melhorar, mas comunicava um profundo sentimento de aceitação.
7. Exortação (v. 6): Paulo não só reafirmava claramente seu amor, sua aceitação e alegria, mas também sabia como desafiar seu mentoreado para o crescimento.
8. Ministração: mais que uma vez Paulo impõe as mãos sobre Timóteo (v. 6) e, em oração, vê o Espírito Santo agir de forma sobrenatural na vida deste (v. 1Tm 4.14). O poder e a graça de Deus fluíam de Paulo para Timóteo.
9. Discernimento das necessidades do mentoreado: Paulo sabia que Timóteo sofria dificuldades por causa da timidez ou do medo, por isso ministrava-lhe diretamente a respeito (v. 7) com palavras que encorajaram milhares de outros Timóteos através dos anos.
10. Desejo de manter o mentoreado junto a si: Timóteo foi chamado a participar da vida de Paulo e a segui-lo de perto (2Tm 3.10,11, 4.9), até em seus sofrimentos (2Tm 1.8). Paulo não escondia de Timóteo a realidade nem o fato de que a vida cristã apresentava desafios e dificuldades. Também não o deixou enfrentá-los sozinho. O mentor se parece ao Paracletos, que se aproxima de nós e nos chama para junto de si.
11. Exemplo (v. 13): Paulo mostrou a Timóteo como ensinar e viver (2Tm 3.10,11), não como um ser perfeito, mas como alguém que permanecia em constante crescimento rumo à perfeição (Fp 3.11-14);
12. Reafirmação do chamado do mentoreado: Paulo lembrou Timóteo de manter viva a chama do dom de Deus que estava nele (v. 6) e ainda estimulou-o a guardar o que lhe foi confiado ou depositado (v. 14);
13. Compartilhamento de dificuldades: o mentor não se vale de máscaras para levar o mentoreado a crer que tudo está sempre bem (v. 15). Em vez disso, compartilha suas dores, suas decepções e sua solidão (2Tm 4.9-16);
14. Discipulado: o estilo de ensino de Paulo, ao contrário do professor, não se baseia em conteúdo e em programas, mas no que flui do coração de um pai para um filho espiritual (2 Tm 1,2; 2.1,2). Paulo repassa vida, a sua e a de Cristo, demonstrando as verdades que queria que Timóteo aprendesse através de como vivia e como se relacionava com ele (2 Tm 2.3-17);
15. Orientação do mentoreado no pensamento estratégico: Paulo desafia Timóteo a reproduzir o que recebeu dele. Mais que isso. Desafia-o a multiplicar-se através de escolher as pessoas certas para que estas, por sua vez, ensinem a outros o que receberam (2Tm 2.2).

Qualidades do mentoreado
É muito comum as pessoas procurarem um mentor como Barnabé e Paulo e se decepcionarem quando ele não corresponde a tudo o que elas buscavam. Não raro, tais pessoas não compreendem que, assim como o mentor, o mentoreado também deve apresentar algumas qualificações para a função.
Vejamos uma passagem que nos ajude a ver essa relação mais uma vez, mas agora focando algumas qualidades do mentoreado, do seguidor:
Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho. Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores. Por esta razão estou lhes enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu ensino por toda parte, em todas as igrejas. Alguns de vocês se tornaram arrogantes, como se eu não fosse mais visitá-los (1Co 4.14-18).
Embora esta passagem revele características de um pai espiritual ou mentor, podemos ressaltar oito características de um filho espiritual ou mentoreado:
1. Trata seu líder como pai espiritual (v. 15): demonstra carinho, amor, respeito e agradecimento pela confiança que o mentor ou líder depositou nele e pelo tempo investido. Reconhece-o como mentor, e não apenas como um professor ou mestre. O mentor ocupa um lugar especial na vida do mentoreado, inclusive na área de autoridade espiritual. O mentoreado procura entender o coração do mentor e alinhar-se com ele, de modo a abençoá-lo em vez de constituir-se em peso para o mentor (Hb 13.17);
2. Imita o líder (v. 16): julga-o um modelo a seguir, um exemplo. O mentoreado, contudo, deve ter em mente que, por sua humanidade, o mentor também pode apresentar falhas ou certas características que contrariam o caráter de Cristo propriamente dito. Seu discernimento o capacitará a imitar o que é saudável, bom, procurando reproduzir isso em sua vida;
3. Tem uma identidade espiritual firme e saudável: entende que é um filho amado (v. 17) e que sua identidade de filho é a base para tudo. Serve, mas não como servo obrigado ou compulsivo e sim pelo transbordar de um coração de filho agradecido. Não procura no pai espiritual sua base de sentir-se bem;
4. É fiel (v. 17): ao Senhor e no Senhor para com o mentor. O mentoreado não murmura com terceiros a respeito das falhas do mentor ou dos problemas que possa ter de enfrentar. A relação entre ambos tem de ser de mútua transparência. O mentoreado é um escudeiro para seu mentor, protegendo-o e até carregando, quando puder, algo penoso para o líder;
5. Vive o que o mentor ensina sobre Jesus (v. 17): em certo sentido, ao ser observado, o mentoreado deve corresponder ao ditado: “Tal Pai, tal filho.” As pessoas devem ser capazes de conhecer o coração e a visão do mentor pelo simples fato de conviver com o mentoreado;
6. Compreende os ensinos sob as atitudes do mentor (v. 17): não se limita a imitar sem compreender. Segue o modelo do mentor exatamente porque percebe o que motiva o comportamento dele. Como os discípulos de Jesus, deve expressar suas dúvidas ou o que lhe é incompreensível.
7. Não se envergonha de seu mentor (v. 14): talvez seu mentor seja mais velho e não tenha concluído tantos cursos como o mentoreado; é possível que seja do sexo oposto, estrangeiro ou, como a maioria dos líderes, alvo de muitas críticas. Independentemente das razões, o mentoreado não deve se envergonhar do mentor, mas agradecer-lhe e até orgulhar-se (no sentido positivo da palavra) pelo fato dessa pessoa ser seu líder ou mentor;
8. Não é arrogante (v. 18): em outras palavras, o mentoreado é humilde e ensinável e não rejeita a correção. Deseja ouvir a avaliação de sua vida e de seu ministério, de modo a poder crescer. Creio que ser ensinável é a característica mais importante de um discípulo ou mentoreado, pois se precisar de aprimoramento ou correção em quaisquer outras áreas, será possível trabalhá-las, sem traumas.

À procura de mentores e mentoreados
A relação mentoreado/mentor é muito preciosa e não pode ser tratada de modo superficial. Na verdade, esse relacionamento é um dom divino, algo parecido ao que Jesus diz a seus discípulos, seus mentoreados:
Já não os chamo servos [hoje, possivelmente uma palavra semelhante poderia ser “obreiros” ou “estudantes”], porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça (Jo 15.15, 16).
Ao referir-se a esta passagem, C. S. Lewis afirma que não escolhemos nossos amigos; Deus os escolhe para nós. Se, de um lado, essa afirmação nos leva a descansar no Senhor quanto a ele inserir e retirar pessoas de nossa vida, de outro haverá situações em que teremos que tomar a iniciativa e nos esforçar a favor de nosso mentor ou mentoreado. É o caso da busca pela pessoa que será nosso cônjuge, por exemplo. Embora essa relação seja uma dádiva do céu, para que dê certo, é preciso entregar nossa vida a ela!
Uma relação de mentor e mentoreado é algo muito semelhante e precioso. O aprofundamento é um processo longo, como ocorreu entre Jesus e os Doze. Foi necessário um ano e meio desde o primeiro chamado em João 1 até que Jesus os separasse como os Doze (Mc 3.13-19; Lc 6.12-16).
Em certo sentido o crescimento gradativo dessa relação pode ser comparado ao processo natural de amizade, namoro, noivado e casamento. O ideal é que seja lento e flua sem artificialismos e sem pressões.
Para muitos, encontrar a pessoa certa para atuar como mentor (ou até para mentorear) é quase tão difícil como encontrar alguém para se casar, especialmente quando aquele que busca o mentor é também pastor. Mas vejamos o que dizem as Escrituras: “... busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Mt 7.7).
O significado desses verbos, em grego, demonstra uma ação continuada. Se não desistirmos, se realmente formos sérios em nossa procura, Deus nos revelará o líder pastoral, o discipulador ou o mentor que precisamos.

Ao buscar essa pessoa, recomendo os seguintes passos:
1. Liste três pessoas que poderiam ajudá-lo de alguma forma nesse papel. Ainda que não se revelem as ideais, escolha as três melhores opções, pensando em pessoas cujas vidas já estão ligadas de algum modo à sua ou é possível ligá-las;
2. Priorize as pessoas por meio da oração. Dirija-se à primeira e peça-lhe que ore quanto a um encontro inicial para conversarem sobre a possibilidade de ela vir a ser seu mentor (discipulador ou líder pastoral);
3. Se a pessoa aceitar, e o encontro inicial for boa, faça uma experiência de três a seis meses. Se o resultado for positivo, glória a Deus! Se não, passe para a segunda pessoa de sua lista e repita o processo.
A meu ver, a maior responsabilidade para o bom relacionamento entre mentor e mentoreado cabe a este último. Normalmente, o mentor possui muitas ocupações, cabendo, assim, ao mentoreado fazer os ajustes necessários para se adaptar à rotina do mentor. Ele deve ter a iniciativa de buscar o mentor e assegurar que o relacionamento se desenvolva adequadamente. Se você já tem um mentor ou líder pastoral, eu o encorajo a meditar em Hebreus 13.17. Expresse-lhe o que Deus lhe mostra nesse versículo.
Será mais produtivo se a relação entre mentor e mentoreado não for apenas individual, de um para um, mas dentro de um grupo ou equipe. Esse era o procedimento de Jesus Cristo. Não há relatos de encontros individuais com os discípulos, mas de encontros em grupo. Paulo reafirma a Timóteo que o que este recebia “na presença de muitas testemunhas” (2Tm 2.2), pela imposição de mãos, não provinha apenas de Paulo, mas também dos presbíteros (1Tm 4.14). No livro de Atos, Paulo aparece quase sempre em grupo ou em equipe. Algumas cartas de Paulo, como 1 e 2 Tessalonicenses, por exemplo, trazem como remetentes: “Paulo, Silvano e Timóteo”.
Mentorear pessoas no contexto de uma equipe ou grupo, entre outras vantagens, permite reunir a riqueza das múltiplas perspectivas à interdependência (que é uma proteção contra a dependência). Isso também confere ao mentoreado mais oportunidade para dar, em vez de apenas receber. Ademais, haverá outras pessoas envolvidas que poderão ajudar a solucionar possíveis conflitos, o que torna o mentor menos vulnerável à perda de amizades, como facilmente ocorre quando o conflito é gerado numa relação individual.
Encerrando, quero dizer que tenho sido muito abençoado por meio do Pr. Irland. Em sua paixão pelo mentoreamento, ele demonstra um espírito ensinável que me surpreende. Com a maior alegria entrega-se, como mentoreado, à orientação de pastores de diferentes denominações ou até mesmo de pastores bem mais jovens, ganhando e crescendo por meio desses relacionamentos. Sem dúvida a habilidade do Pr. Irland de aprender de quase qualquer pessoa fornece-lhe subsídios para que ele mesmo atue como mentor de quase qualquer pessoa!
Obrigado, Irland, por mostrar o caminho para tantos de nós que queremos ser como nosso Senhor Jesus Cristo, mas sabemos que sozinhos não lograremos êxito. Precisamos de companheiros de jugo, do pastoreio de pastores, de aprendizagem contínua, de mentoreamento. Enfim, de qualidades tão evidentes em sua atuação que nos encorajam a absorvê-las e praticá-las. Podemos colocar em prática o que você nos ensina “na presença de muitas testemunhas” e confiar isso “a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros”!

Bibliografia
AZEVEDO, Irland. De pastor para pastores: um testemunho pessoal. Rio de Janeiro: JUERP, 2001.HENDRICKS, Howard. Aprenda a mentorear. Belo Horizonte: Betânia, 1999, principalmente parte 2.HOUSTON, James. E. Mentoria espiritual: o desafio de transformar indivíduos em pessoas. São Paulo: Sepal, 2003.KORNFIELD, David. As bases na formação de discipuladores. São Paulo: Sepal, 1996. Na verdade, toda a literatura na área de discipulado está muito relacionada ao mentoreamento._____. Equipes de ministério que mudam o mundo: oito características de equipes de alto rendimento. São Paulo: Sepal, 2002. Trata-se de uma ferramenta que ajuda o líder e sua equipe a diagnosticar a saúde e o rendimento da equipe visando a planejar estratégias de aperfeiçoamento. Embora não esteja propriamente relacionado ao tema mentoreamento, pode ajudar no desenvolvimento desse conceito em grupos pequenos ou equipes.
Sites de consulta na InternetMAPI (Ministério de Apoio a Pastores e Igrejas): www.mapi-sepal.org.br.Mentorlink International: www.mentorlink.org. TOPIC Brasil (Trainers of Pastors International Coalition ou Aliança Internacional de Capacitadores de Pastores - AICP): www.topicbrasil.org.
Fonte: http://www.mapi-sepal.org.br/

QUAL É O FATOR QUE MAIS INIBE O CRESCIMENTO DA IGREJA EVANGÉLICA NO BRASIL?

SÉRIE DISCIPULADO

Marinho Soares

Esta pergunta, à primeira vista, parece impertinente. Como falar que a igreja evangélica no Brasil está com algum problema de crescimento? Os números, cada vez mais animadores para os evangélicos e preocupante para os católicos, comprovam o crescimento fantástico dos evangélicos nesta última década. Temos um templo em quase cada esquina das grandes cidades. Os espaços onde funcionavam bares, cinemas, oficinas mecânicas, mercados e outros comércios, tornaram-se lugares de celebrações. Hoje pastoreio uma igreja que tem como sobrenome “Oficina de Vidas”, pois, funciona em um prédio, onde por anos foi uma oficina mecânica para automóveis. No Brasil, o número de evangélicos dobrou em 20 anos. A Revista Veja de 03 de Julho de 2.002 escreveu: “O resultado do censo demográfico no quesito religião, divulgado neste ano, mostra que mais de 15% dos brasileiros – um rebanho de 26 milhões de pessoas – são protestantes. É um percentual cinco vezes maior que em 1940 e o dobro do de 1980. Em Estados como Rio de Janeiro e Goiás, o índice supera 20% dos habitantes. No Espírito Santo e em Rondônia, os evangélicos passam de um quarto da população. Esse ritmo indica que metade dos brasileiros poderiam estar convertidos em cinco décadas – um tempo mínimo quando se fala em avanço religioso.”
Bem, talvez pudéssemos mudar a pergunta para: Qual é o fator que mais inibe o crescimento saudável da igreja evangélica no Brasil?
Sabemos que diante desta pergunta muitas razões poderiam ser elencadas, tais como: falta de ética, ausência de compromisso, superficialidade na fé, pouco ou quase nenhum conhecimento bíblico, igrejas comerciais, etc e etc...
Contudo, gostaria de me deter num fator que está atrás de muitos outros na deterioração da igreja evangélica brasileira, e quem sabe das igrejas no mundo inteiro: a perda de um processo sério, dinâmico e conseqüente de discipulado.
Esta palavra, discipulado, é ouvida de vez em quando em algumas de nossas igrejas. É quando um novo convertido chega e queremos prepará-lo para o batismo, então fazemos com ele o “discipulado”. Ensinamos alguns pressupostos básicos da fé cristã. Ele gosta do que recebe, acredita que irá continuar tendo uma relação de aprofundamento na sua carreira cristã, mas logo percebe que a igreja fez propaganda enganosa; pois é jogado dentro da congregação e nunca mais é estimulado a crescer em seu caráter, relacionamentos, habilidades ministeriais e conhecimento bíblico; ou se é estimulado, não lhe dão o caminho, a condição necessária para este desenvolvimento.
Precisamos voltar ao discipulado. O alicerce e maior investimento que Cristo fez, para o crescimento de Sua igreja, foi criar um movimento de discipulado a partir de seus 12 discípulos. Ele passou valores do Reino não somente em palavras/teoria, mas nas experiências no dia a dia e no próprio ensino prático. Seu relacionamento com os 12 era mais importante que escrever livros, teorias, dar seminários, classes de aula, construir mega-templos, fundar uma denominação e tantas outras coisas que fazemos para mostrar que somos uma igreja que cresce. Jesus fez do discipulado sua marca registrada. A igreja, que deveria ser a fiel depositária de tudo o que ele nos deixou, perdeu esta marca. Precisamos voltar ao início.
O que é discipulado? Keith Phillips em seu livro A Formação de um Discípulo pág.16, escreve: “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno, baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo, que o aluno é capaz de treinar outros para ensinarem outros.” O discipulado é um relacionamento. Deus fez discipulado conosco quando se relacionou. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós...” Jo1:14. Sem este relacionamento direto, encarnado, Deus não poderia nos ensinar de si mesmo. Para que temos dedicado nossas vidas? Para quem temos dado a maior parte do nosso tempo? Estamos encarnados (nossa missão) para quê? Se dissermos que somos discípulos de Jesus, nossa missão deverá ser a mesma: fazer discípulos!!!
Como podemos então quebrar este ciclo de descompromisso com o discipulado na igreja brasileira? Começando pela nossa própria vida. Deus pode nos usar para mudar esta história. Pensemos em três chaves para isso: Primeiramente você deve ter um discipulador. Discípulo consegue discipular bem melhor se estiver sendo discipulado. É um processo, e como todo processo ele precisa de um início, meio e fim. O início é ter alguém investindo em sua vida. Um líder pastoral ou mentor a quem você prestará contas com freqüência. Esta pessoa deverá entender os valores de um processo sério de discipulado. Está difícil encontrar, mas se procurar com diligência, irá encontrar. Esta pessoa deverá caminhar com você, lhe auxiliando em seu crescimento relacional (com Deus, consigo mesmo, com sua família, com seus líderes, com sua igreja, com o mundo ao seu redor); crescimento de caráter (auxiliando a enxergar as áreas do seu coração que precisam de uma renovação - e não são poucas); crescimento em conhecimento bíblico (precisamos de um conhecimento da Palavra de Deus para usarmos em nossa defesa e ataque – foi assim que Jesus fez quando tentado pelo diabo. Lc 4:1-13); crescimento em habilidades ministeriais (nos ajudando a conhecer nossos dons, paixão e lugar certo no corpo de Cristo para nos sentirmos úteis.
Em segundo lugar você deve compreender e praticar as disciplinas espirituais de um discípulo de Jesus e se dedicar a elas de corpo, alma e espírito. Jesus nos ensina a vida simples, a comunhão, a oração, a Palavra de Deus, e o evangelismo (testemunho).
David Kornfield em seu Livro: As Bases na Formação de Discipuladores, pág. 25, Ed. SEPAL – escreve: “Um discípulo é uma pessoa cujo compromisso principal na vida é seguir a seu mestre, desenvolver-se para ser como seu mestre, e fazer a vontade de seu mestre.” Ser um discípulo integral e radical de Jesus é voltar a praticar as coisas que Jesus viveu. Como é sua vida? Simples e descomplicada com tempo para desfrutar do amor de Deus e se dedicar às pessoas que Deus coloca em sua caminhada? Sua comunhão com outros discípulos (crentes) é estreita, intensa e transformadora? Seu tempo dedicado a Palavra lhe dá encorajamento e direção, ouvindo a Deus aqui e agora em relação à sua vida e ministério? A oração faz parte de sua sociedade com Deus, recebendo orientação em todos os aspectos, não fazendo nada sem antes confirmar com Ele? Você compartilha do evangelho e seu testemunho, regularmente, com pessoas que não conhecem a Cristo?
Em terceiro lugar você deve assumir a responsabilidade de ser um discipulador. A Bíblia diz: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2 Tm 2.2). Deus está buscando homens fiéis, pessoas dispostas a tornarem-se discipuladores. Elas renovarão o ciclo de crescimento com saúde da igreja brasileira. Penso que devemos segurar um pouco nosso crescimento e relançarmos os alicerces do discipulado. Deus está desejoso de levantar um movimento de pastores, líderes e crentes discipuladores em nossas igrejas. Meu desejo ainda é ver isto acontecendo nesta geração. Não seremos mais chamados de crentes, evangélicos ou protestantes; mais sim de discípulos! Discípulos de Jesus Cristo! Desenvolvendo as características espirituais de um discípulo, observando e aprendendo com Jesus Cristo, e, sendo encorajados por outra pessoa que nos ama significativamente e caminha conosco de maneira interessada, e sendo discipuladores de algumas pessoas que Deus coloca em nossas vidas; teremos condições de nos tornar uma grande e saudável igreja evangélica no Brasil.
Perguntas para reflexão:
1. O que você pode fazer para alcançar um discipulador/mentor para sua vida?
2. Qual das disciplinas espirituais de um discípulo você tem mais dificuldade em praticar? Quais seriam alguns passos para superar esta falha?
3. Quantas pessoas você tem influenciado de maneira tão significativa que podem chamá-lo de discipulador de suas vidas?
http://www.mapi-sepal.org.br/defcoordmarinho.htm"
Marinho Soares da Silva Filho é pastor Metodista Livre e coordenador regional do MAPI em Cuia
http://www.mapi-sepal.org.br/defcoordmarinho.htm"
Do site do Sepal/Mapi